A Revista Adventista, que neste mês comemora cem anos de existência, é fruto de uma modesta publicação que recebeu, em 1906, o curioso nome de Revista Trimensal. O contraste é gritante entre ambas. Mas nem por isso aquela edição centenária, com apenas doze páginas e sem nenhuma ilustração, deve ser olhada com pouco interesse. Muito pelo contrário, deve ser analisada com respeito e curiosidade, pois representa o sonho de pioneiros que não mediram sacrifícios para implantar e fortalecer a obra de Deus neste imenso país.
Dos 11 pequenos artigos da Revista Trimensal [o certo seria Trimestral], cinco foram assinados por Abel L. Gregory. Os demais foram escritos por Ernesto Schwantes, H. F. Graf, Henrique C. Mecking e Emilio Hölzle. Nas sete páginas finais, constam as lições da Escola Sabatina do primeiro trimestre de 1906.
“Saudações” – título da primeira matéria da página de abertura – corresponde ao que chamamos, hoje, de editorial ou palavras do editor. Começa assim: “Nossos irmãos, que podem ler portuguez, regozijam-se comnosco que uma Revista Trimensal vae saindo com a mensagem da salvação para o nosso tempo.” Naquela época, muitos adventistas estavam mais afeitos à língua alemã. Contudo, era tempo de atender aos de língua portuguesa.
O editor, no primeiro parágrafo, revela forte senso de missão: “O journal, talvez, não será de luxo, nem sem erros na redacção, mas desejamos que será de alimento espiritual a muitos.”
Em seguida, Gregory fala sobre as lições da Escola Sabatina. “Temos aqui treze lições ou para três mezes. Ao cabo deste tempo, a segunda sahida [edição] da Revista terá outras lições; ao fim de nossas egrejas estudarem as mesmas verdades”, ele enfatiza. Por sinal, antes do pacote de lições, Gregory sugere como estudá-las com proveito: “As lições que nós offerecemos aos nossos queridos irmãos nesta revista não são para estudar só no sabbado na escola sabbatina, mas nós devemos estudal-as diariamente. Como, porém, é impossivel comer em um dia bastante para sete, assim é também impossivel engulir um pão de uma só vez” (sic!).
Nos parágrafos finais de suas “Saudações”, o editor revela uma preocupação que já existia naquela época: assinantes. “Por isso convidamos as nossas egrejas procurar mandar logo assignantes de cada familia. ... O preço não está além de ninguem, 1.200 reis por anno. Quem não póde gastar 100 reis mensalmente para um ‘bom ensinador’?”
Uma nota publicada no alto da página dois, informa que, em 1906, havia no Brasil 30 escolas sabatinas, “com 547 discípulos”. No segundo trimestre de 1905, as ofertas haviam alcançado 263.170 reis.
Por fim, vale destacar o espírito missionário dos pioneiros. Ernesto Schwantes descreve as dificuldades por que passou ao visitar irmãos e interessados em Campo Bom, Santo Antônio da Patrulha e Taquara, no Rio Grande do Sul, e em Criciúma, Santa Catarina, onde sua perna esquerda “tinha ficado cheio de postemas” (sic!). H. F. Graf fala da liberalidade dos irmãos de Não-Me-Toque, que deram expressiva oferta “para comprar uma nova imprensa para a typographia”. Henrique Mecking, por sua vez, escreve dizendo que foi muito bem recebido pelos irmãos de Santa Catarina, onde conseguiu fazer 70 assinaturas da revista O Arauto da Verdade. O bloco de notícias termina com Emilio Hölzle falando do êxito das conferências realizadas em Castro, e das portas abertas “para estudos bíblicos com diversas famílias”, em Ponta Grossa, Paraná. Como se pode observar, existe um abismo entre a modesta semente lançada ao solo, um século atrás, e a moderna Revista Adventista, mas o espírito dos editores daquele tempo continua inspirando os de hoje.
Leia e comprove tudo isso nesta edição comemorativa, que também inaugura uma nova fase da Revista Adventista, cujo projeto gráfico é da autoria do designer Levi Gruber.
1 de dezembro de 2013
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